Metade dos jornalistas portugueses têm elevados níveis de esgotamento

O relatório do Inquérito Nacional às Condições de Vida e de Trabalho dos Jornalistas em Portugal foi apresentado na Casa da Imprensa no passado dia 16 de outubro. Este estudo foi promovido pela API – Associação Portuguesa de Imprensa, pela Casa da Imprensa e pelo Sindicato dos Jornalistas (SJ) e contou com o apoio da Federação Europeia dos Jornalistas (FEJ)

Raquel Varela, coordenadora do estudo realizado por investigadores do Observatório para as Condições de Vida e Trabalho da Universidade Nova de Lisboa, refere a existência de ambientes de trabalho tóxicos e identifica uma profissão marcada por sobrecarga laboral, conflitos éticos, degradação da qualidade do trabalho, dificuldade de conciliação entre a vida profissional e a vida familiar, salários baixos e precariedade.

Como consequência, quase metade (48%) dos jornalistas portugueses tem níveis elevados de esgotamento e cerca de 18% apresentam valores de exaustão emocional que variam entre um nível muito elevado e extremamente elevado. Outro indicador preocupante revelado por este estudo é a média de filhos, de 1,04, abaixo da média nacional de 1,38 filhos por mulher.

O inquérito decorreu em abril e maio de 2022 e recolheu um total de 866 questionários, de 119 concelhos, de homens (52%) e mulheres (48%), jornalistas no ativo ou na reforma. Entre os ativos, com menos de 65 anos, a média de idades dos participantes foi de 44,8 anos. 

Números

  • 48% do universo inquirido apresenta níveis elevados de esgotamento;
  • 18% apresentam níveis de exaustão emocional que variam entre um nível muito elevado e extremamente elevado;
  • 38% apercebem-se de problemas mentais decorrentes do próprio trabalho jornalístico;
  • 93% dos respondentes ao inquérito declara ser alvo de assédio moral por parte das chefias e/ou patrões, sendo uma parte (7%) por colegas;
  • Cerca de 50% dos jornalistas que responderam ao inquérito trabalham mais de 40 horas por semana e aproximadamente metade trabalha mais de dez horas semanais em períodos noturnos;
  • Um terço dos respondentes considera que há um desequilíbrio ruinoso entre a vida pessoal e a profissional;
  • 52% são casados ou vivem em união de facto, 33% são solteiros, 14% são divorciados;
  • A média de filhos é de 1,04, abaixo da média nacional de 1,38 filhos por mulher;
  • 40% não têm filhos, 26% têm um filho, 27% tem dois filhos;
  • 36% dão conta de que o salário auferido condiciona na prática profissional;
  • 80% dos respondentes possui formação superior: 20% com bacharelato ou licenciatura pós-Bolonha; 34% com licenciatura pré-Bolonha, 11% com pós-graduação e especialização; 14% com mestrado integrado, 2% com doutoramento e 19% com ensino secundário. 7% estavam, na altura do inquérito, a estudar;
  • Sobre a formação complementar, 59% dizem não ter tido, 12% sim, por iniciativa da empresa, e 29% por iniciativa própria;
  • 54% estão inquietos com a precarização da produção jornalística atual;
  • 82% dizem que o ritmo de trabalho transformou as rotinas produtivas;
  • 49% admitem ter vivido situações de censura ou autocensura;
  • 52% foram bloqueados no acesso às fontes por autoridades do Estado, mercado ou sociedade civil;
  • 42% foram confrontados com problemas éticos por causa do trabalho;
  • 48% sentem-se inseguros com a sua situação precária;
  • 62% não encontram apoio na resolução de questões éticas das rotinas laborais;
  • 1225 euros é a remuneração média líquida dos jornalistas respondentes no ativo.

Aceda aqui ao estudo na íntegra.