Histórico produtor do “60 minutes” demitiu-se “por ter perdido autonomia e independência”

Bill Owens trabalhava na CBS há 37 anos

Demissão surge na sequência da emissão de uma reportagem sobre a guerra em Gaza que não agradou a Donald Trump

Depois de 37 anos como produtor do “60 Minutes”, da CBS, Bill Owens demitiu-se na passada quarta-feira, 23 de abril, anunciando à sua equipa que o fazia por “ter pedido a independência jornalística” que sempre pautou o alinhamento editorial de um dos programas de informação mais credíveis nos EUA, emitido todos os domingos há mais de 50 anos.

“Ao longo dos últimos meses, ficou claro que eu não teria autorização para liderar o programa como sempre fiz, para tomar decisões independentes com base no que era certo para o ’60 Minutes’, certo para o público”, lamentou, numa nota interna enviada aos seus funcionários a que o New York Times teve acesso.

“Estou a afastar-me para que o programa possa seguir em frente”, afirmou. “O programa é demasiado importante para o país. Tem de continuar, só que agora não comigo como produtor executivo.”

Esta demissão surge poucos dias depois de Donald Trump ter ameaçado retirar a licença de emissão televisiva à CBS por não ter gostado de uma reportagem sobre a guerra em Gaza. A “guerra” com o ’60 minutes’ vem de longe, e no ano passado, durante a campanha eleitoral, colocou mesmo a Paramount em tribunal, alegando que a entrevista que lhe fizeram tinha sido “editada de forma enganadora”, e pede 10 mil milhões de dólares por danos causados.

A demissão de Bill Owens foi anunciada ao público no final do ’60 minutes’ desta semana pelo jornalista Scott Pelley. “Ele era o nosso ‘chefe’, e se já trabalharam para alguém porque o admiravam muito, poderão compreender como esta equipa se sente agora”, disse, emocionado.

A inclusão dessa nota no programa terá sido decidida pela equipa de jornalistas do programa, sem dar conhecimento a outros superiores hierárquicos – um protesto simbólico, homenageando Bill Owens e transmitindo também à administração que não será fácil vergá-los a decisões que sejam contrárias à ética jornalística ou que ponham em causa a independência editorial da redação.