Celebração do jornalismo de investigação e ‘insubmisso’ na entrega do Prémio Vicente Jorge Silva

Christiana Martins (à esq.) foi a grande vencedora do Prémio de Jornalismo de Excelência Vicente Jorge Silva (4ª edição)

Os vencedores da 4.ª edição do Prémio Jornalismo de Excelência Vicente Jorge Silva, instituído pela INCM, foram distinguidos no Clube de Jornalistas a 8 de novembro, dia em que Vicente Jorge Silva completaria 80 anos de idade. Christiana Martins lembrou os ensinamentos daquele que foi o seu primeiro diretor ao receber o troféu pela reportagem “Morte no rio do ouro”, realizada na Amazónia e publicada no Expresso.

“O Vicente foi o meu primeiro diretor, profissional que a todos nós marcou e nos ensinou a sermos insubmissos e a amar a profissão”, começou por explicar Christiana Martins quando agradeceu a “honra” pela distinção da sua reportagem de investigação publicada no Expresso, Morte no rio do ouro, com o Prémio Jornalismo de Excelência Vicente Jorge Silva.

A vencedora da 4.ª edição deste prémio, promovido pela Imprensa Nacional – Casa da Moeda (INCM) em parceria com o Clube de Jornalistas, sublinhou também o facto de o júri ter distinguido uma mulher, numa profissão em que “elas” ainda ganham menos que “eles” e ocupam poucos cargos de chefia. Além disso, “uma mulher de 54 anos, numa época em que ser jovem é um posto e em que muitas redações se veem esvaziadas dos seus seniores de referência”.

“Premiaram também uma mulher que fez a opção pela maternidade e que, por isso, como tantas outras em tantas profissões, luta para tentar conciliar a vida familiar com a vida profissional. E atenção, premiaram uma imigrante, num tempo em que ser o Outro é um risco’, referiu ainda a jornalista do Expresso, que também fez questão de chamar a atenção para as condições laborais que afetam os jornalistas e o jornalismo, “com trabalhadores em situações precárias, vínculos laborais instáveis e salários baixos”.

Sobre a reportagem distinguida, Christiana Martins agradeceu o apoio da sua família, da Fundação Gulbenkian, que complementou os orçamentos do Expresso e da SIC, e a parceria da Amazônia Real, órgão brasileiro de jornalismo independente. “Trabalhei na mais antiga tradição da reportagem e do muito que vi e senti, uma reduzida parte está refletida no texto agraciado. É uma pequeníssima contribuição para o imenso esforço que todos temos de fazer em nome daquele espaço único do nosso planeta.”

Na cerimónia de entrega estiveram também alguns dos autores dos dois trabalhos distinguidos pelo júri com menções honrosas, e também publicados no Expresso: Paulo Barriga, Micael Pereira e Pedro Coelho, com Operação Lawrence – A aventura do banqueiro Ricardo Salgado no país do coronel Kadhafi, e Rúben Tiago Pereira, Hélder Martins, Sofia Miguel Rosa, Nuno Fox, Tiago Pereira Santos, João Melancia e Maria Romero com Baixa de Lisboa: Liquidação Total.

Os premiados receberam troféus criados pelo designer Henrique Cayatte, produzidos a partir da reciclagem de materiais usados nas áreas fabris da INCM.

O júri do Prémio de Jornalismo de Excelência Vicente Jorge Silva foi presidido nesta 4ª edição por Nicolau Santos, presidente do Conselho de Administração da RTP, e composto ainda por David Pontes, diretor do Público, João Vieira Pereira, diretor do Expresso, Francisco Belard, vice-presidente do Clube de Jornalistas, e Luísa Meireles, diretora de Informação da Agência Lusa.

O Prémio Jornalismo de Excelência Vicente Jorge Silva visa distinguir trabalhos que reforcem os diferentes estilos da imprensa escrita, seja através da investigação, da reportagem ou da análise, que contribuam para uma sociedade mais informada, e atribui ao vencedor uma bolsa de investigação jornalística no valor de 5000 euros. Visa ainda prestar homenagem a Vicente Jorge Silva, figura incontornável e de referência no jornalismo nacional.