O Comité para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) anunciou esta segunda-feira em Nova Iorque estar “consternado ao saber do assassinato, no domingo, dos correspondentes da Al Jazeera, Anas al-Sharif e Mohammed Qreiqeh, e dos operadores de câmara Ibrahim Zaher, Mohammed Noufal e Moamen Aliwa, pelas forças israelitas em Gaza”.
Os cinco jornalistas da equipa da Al Jazeera em Gaza foram mortos num ataque deliberado, assumido pelo Exército israelita, a uma tenda utilizada pelos meios de comunicação social perto do Hospital Al-Shifa.
Num comunicado em que anuncia o assassinato de Anas al-Sharif, o exército israelita acusa o jornalista de liderar uma célula do Hamas e de “lançar ataques com rockets contra civis israelitas e tropas [israelitas]”. Há algumas semanas, ministros do governo de Netanyahu tinham apelado à sua “eliminação”, por divulgar ao mundo imagens de crianças subnutridas e a dimensão da fome em Gaza, o que Israel continua a negar, apesar de todas as evidências.
“Israel tem desde há muito tempo este padrão, bem documentado, de acusar jornalistas de serem terroristas sem fornecer qualquer prova credível”, acusa o CPJ.
“O padrão israelita de rotular os jornalistas como militantes sem fornecer provas credíveis levanta sérias questões sobre a sua intenção e respeito pela liberdade de imprensa”, disse Sara Qudah, Diretora Regional do CPJ. “Os jornalistas são civis e nunca devem ser visados. Os responsáveis por estes assassinatos devem ser responsabilizados.”
Al-Sharif era um dos repórteres mais conhecidos da Al Jazeera em Gaza desde o início da guerra e um dos vários jornalistas que Israel tinha anteriormente alegado serem membros do Hamas, sem apresentar provas. Mais recentemente, al-Sharif tinha relatado a fome que ele e os seus colegas enfrentavam devido à recusa de Israel em permitir a entrada de ajuda alimentar suficiente em Gaza.
Num vídeo de 24 de julho, Avichay Adraee, porta-voz das Forças de Defesa de Israel, acusou al-Sharif de ter sido membro do braço militar do Hamas, Al-Qassam, desde 2013, e de ter trabalhado durante a guerra “para o canal mais criminoso e ofensivo”.
Al-Sharif disse ao CPJ em julho: “A campanha da Adraee não é apenas uma ameaça aos media ou à destruição de imagem; é uma ameaça à vida real.”
Disse ainda: “Tudo isto está a acontecer porque a minha cobertura dos crimes da ocupação israelita na Faixa de Gaza prejudica-os e mancha a sua imagem no mundo. Acusam-me de ser terrorista porque a ocupação quer assassinar-me moralmente.”
O Comité para a Proteção dos Jornalistas tinha emitido há 15 dias um apelo internacional para a proteção específica de Anas Al-Sharif, considerando que tinha a sua vida seriamente ameaçada.
Desde o início da guerra entre Israel e Gaza, a 7 de outubro de 2023, foram mortos 186 jornalistas. Segundo o CPJ, pelo menos 178 destes jornalistas eram palestinianos e foram mortos por Israel.