Fernando Paulouro (1947-2025)

Fernando Paulouro. Foto. Jornal do Fundão

O Clube de Jornalistas atribuiu-lhe o Prémio Gazeta de Mérito em 2014.

O jornalista e escritor Fernando Paulouro das Neves, ex-diretor do Jornal do Fundão, morreu na noite de segunda-feira, 6 de outubro, um dia depois de ter apresentado o seu último livro, “As Sombras do Combatente”, numa sessão que esgotou o auditório da Biblioteca Eugénio de Andrade, no Fundão. Tinha 78 anos.

Fernando Paulouro dedicou quase toda a vida ao Jornal do Fundão, onde foi jornalista, chefe de redação e diretor, substituindo o seu tio, António Paulouro, fundador histórico do título nascido em 1946 e que se impôs como referência no jornalismo regional.

O que representou como diretor do Jornal do Fundão pode ser resumido nestas palavras que um dia Manuel António Pina sobre ele escreveu: “Rosto de um jornal com uma longa tradição de intransigente cidadania, Fernando Paulouro é mais do que isso: é o rosto da própria tradição de honra do jornalismo, tantas vezes entregue, nestes dias, a comerciantes e a usurários e atascada na indignidade profissional.”

Fernando Paulouro recebeu o Prémio Gazeta de Mérito do Clube dos Jornalistas em 2014 e por diversas vezes fez parte das estruturas diretivas do Sindicato dos Jornalistas e da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista.

Como refere o jornal que dirigiu, e que hoje teve a triste tarefa de escrever o seu obituário, Fernando Paulouro teve sempre uma ligação muito forte à cultura. Presidiu ao Teatro das Beiras e recebeu inúmeras distinções, entre as quais o título de sócio de honra da Sociedade Ibero-Americana de Antropologia Aplicada e o Prémio Eduardo Lourenço, atribuído pelo Centro de Estudos Ibéricos. Em 2013, foi-lhe atribuída a Medalha de Ouro da cidade do Fundão.

No próximo ano iria presidir à Comissão de Honra das Celebrações dos 80 anos do Jornal do Fundão.

Nos últimos anos dedicou-se sobretudo à escrita de livros, tendo publicado, entre outros, “A Guerra da Mina e os Mineiros da Panasqueira” (com Daniel Reis), “O Foral: Tantos Relatos/Tantas Perguntas”, “Os Fantasmas Não Fazem a Barba” (com Zé d’Almeida), “A Materna Casa da Poesia – Sobre Eugénio de Andrade”, “Os Olhos do Medo”, “Crónica do País Relativo – Portugal, Minha Questão”, “Fellini na Praça Velha”, “Brasil em Mim”, “O Informador e Outros Contos”, “Catorze Histórias Incríveis ou o Fabuloso Imaginário das Lendas da Beira Baixa” (com José Manuel Castanheira) e “O Tribunal das Almas”. Organizou também a antologia “António Paulouro: As Palavras e as Causas”.

Rui Pelejão, jornalista que iniciou a sua carreira no Jornal do Fundão e trabalhou no Expresso e Autosport, recorda que Fernando Paulouro costumava dizer que “a sua grande aventura era ficar”. E ele “ficou sempre no seu Jornal do Fundão, ficou sempre na sua região, ficou sempre nas suas causas, ficou sempre no seu humor e humanismo. Ficou sempre na sua intransigente liberdade e por isso ficará sempre”.