Na cerimónia que se realizou esta sexta-feira, 3 de janeiro, no Grémio Literário, em Lisboa, o Presidente da República disse esperar que este ano traga “melhores notícias” para os jornalistas portugueses, enaltecendo o “papel heróico” daqueles que, em circunstâncias muito difíceis, continuam a realizar trabalhos de excelência como aqueles distinguidos pelo júri da 39.ª edição dos Prémios Gazeta, os mais prestigiados do jornalismo português.
Promovidos há 40 anos pelo Clube de Jornalistas, com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa, os Prémios Gazeta relativos a 2023 foram entregues na noite de sexta-feira, 3 de janeiro, no Grémio Literário, em Lisboa.
Como é tradição, a cerimónia da 39.ª edição dos Gazeta foi presidida pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que entregou todos os prémios e voltou a frisar no seu discurso a necessidade imperiosa de “salvar [o jornalismo] que precisa de ser salvo”, de forma a garantir a qualidade e a liberdade de imprensa, pilar fundamental da democracia.
Se a cerimónia do ano passado foi “marcada pela situação vivida num dos grandes grupos de comunicação, o Global Media Group”, agora são “outros protagonistas, como a Visão, mas exatamente com as mesmas consequências”, lamentou. “Vivem-se indefinições nestas empresas em que ninguém é responsável, não é o proprietário, não é o gestor, não é o financiador, não é ninguém com responsabilidades administrativas, e morre solteira a culpa…”
No final do seu discurso, Marcelo Rebelo de Sousa enalteceu o “papel heróico” dos jornalistas e disse esperar “melhores notícias para o jornalismo português” este ano. “Eu continuo a acreditar (acreditava antes de ser Presidente, continuarei a acreditar depois de ser Presidente): a democracia e a liberdade de imprensa vencerão.”
Antes, também Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, havia destacado a relevância do jornalismo para a democracia: “É um orgulho começar o novo ano convosco, como presidente da Câmara e como filho de jornalista. O jornalismo, quando pautado pelo rigor e pela objetividade, transforma a sociedade e combate o populismo e os extremos”, afirmou, elogiando os trabalhos premiados como exemplos de um jornalismo que “abre novos mundos e faz a diferença”.
Carlos Moedas sublinhou ainda o compromisso da Câmara Municipal de Lisboa em apoiar projetos jornalísticos sem interferência política, afirmando que “o jornalismo é um bem público que precisa de ser preservado, protegido e promovido”.
Nesta 39.ª edição, o júri decidiu atribuir o Prémio Gazeta de Mérito à jornalista Maria Antónia Palla, que niciou a carreira no Diário Popular, em 1968, e trabalhou n’O Século Ilustrado, onde chegou a chefe de redação, Vida Mundial, Anop, A Capital e RTP, tendo sido ainda cronista do Diário de Notícias. A reportagem da sua autoria “Aborto não é crime”, emitida pela televisão pública em 1976 – alvo de um processo judicial em que acabaria absolvida – constitui a génese da campanha pela despenalização. Primeira mulher vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas, em 1979, e presidente da Caixa de Previdência dos Jornalistas, recebeu vários prémios, tendo em 2004 sido distinguida com o grau de comendadora da Ordem da Liberdade.
“Ouvi recordar que o Presidente Jorge Sampaio a condecorou com a comenda de Ordem da Liberdade. Pergunto por que é que não foi condecorada com a mesma condecoração dos Capitães de Abril homens, que foi o grande oficialato?”, perguntou Marcelo Rebelo de Sousa, durante o seu discurso. “Irá ser, dentro de dias”, anunciou. “Não pode haver discriminação entre os Capitães de Abril e quem lutou também pela liberdade.”
Também o jornalista chileno Mário Dujisin, falecido em 2023, recebeu a título póstumo um Gazeta Especial, numa homenagem ao seu contributo para a cobertura da Revolução de Abril e à defesa da Liberdade de Imprensa.
O Gazeta de Televisão foi entregue a Miriam Alves, da SIC, pela reportagem “Vírus que tratam”, sobre terapias inovadoras para infeções resistentes a antibióticos, e o Gazeta de Rádio foi para Filipe Santa-Bárbara, da TSF, pela série “Violeta”, que relata a trajetória de uma mulher transexual romena em busca de segurança em Portugal.
O Gazeta de Imprensa distinguiu Marta Vidal, pela reportagem “A liberdade, lá em cima: os pássaros de Gaza”, publicada no Expresso, sobre os esforços de palestinianos para protegerem aves migratórias no meio do conflito que atinge a região. Com um discurso muito crítico sobre a postura de Portugal perante a guerra em Gaza, dirigiu-se diretamente ao Presidente da República e ao Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, lamentando que se mantenham “em silêncio” perante “a aniquilação de um povo e de um território”.
Na categoria Multimédia, o editor de Fotografia do Observador, João Porfírio, e o editor de Política, Rui Pedro Antunes, foram distinguidos com a reportagem “Wagner – Dentro da Máquina de Guerra de Putin”. O webdesign foi assinado por Miguel Feraso Cabral e a edição multimédia por Teresa Abecasis, também presentes na cerimónia.
O prémio Revelação foi atribuído a Inês Loureiro Pinto, pela reportagem “Natureza vs. luxo imobiliário”, emitida na RTP2.
O Gazeta de Imprensa Regional foi entregue ao semanário A Voz de Trás-os-Montes, reconhecendo o seu papel na cobertura de notícias locais desde 1947.
O júri da 39.ª edição dos Prémios Gazeta teve a seguinte composição: Eugénio Alves (Clube de Jornalistas), que presidiu, Cesário Borga (CJ), Dina Soares (jornalista), Eva Henningsen (Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal), Fernanda Bizarro (jornalista), Fernando Cascais (professor universitário aposentado), Joaquim Furtado (jornalista), Jorge Leitão Ramos (crítico de cinema e televisão), José Rebelo (professor emérito do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa) e Paulo Martins (jornalista e professor universitário).
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